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Triste como estar longe de pessoa amada

“Para onde vai essa água, mãe?”, desde a terena idade ela fazia a pergunta apontando o mar, sempre que ia caminhar na orla da praia.

“Tira os chinelos, filha!”, ordenava sua mãe. Ela obedecia. Tirava os chinelos e colocava-os em seguida, dizia sentir a carícia da areia que penetrava entre seus dedos. Sentia-se desconfortável, chorava e voltava a apontar o dedinho.

“Essa água, para onde vai?”, insistia ela.

“Para ultramar, filha.”

“Ultramar!”

“Terra do vô e da vó”

“Eles estão em casa?”

 

“Sim, filha.”, Didaticamente sua mãe começava a explicar a diáspora africana e dos primeiros animais transportados para o Brasil, que eram os primeiros a serem despejados nas profundezas das águas do mar, ao primeiro sinal de perigo. “Quantos deles padeceram nesse mundo cristalino líquido.”

“É água sem vergonha?”

“Filha, vamos embora”, ordenou a mãe.

Assim era ela, Atnamas Borges de Dubiline, com seus 4 anos, falastrona, pergunteira, inteligente e curiosa como lagartixa. Jurou a sua mãe que em idade adulta viajaria à terra dos avôs, para ver como a água dormia, se lá aonde ia, havia morada. Queria ver onde terminava a água e como era a casa da água no ultramar.

“Como é lá?”

“É bonito!”, disse sua mãe, renunciando o conversar sobre o local do acasalamento das águas, talvez por lá formasse alguma cascata antes de se deitar. Mas ela não queria pronunciar essa palavra, cascata a remetia a outra cachoeira e o mundo deixava de ser real para uma ilusão, pois que às vezes essa brincação das águas não parecia real. Cascata, queda d’água e cachoeira. Era bonito de se ver, mas próximo a irrealidade.

 

Atnamas Borges de Dubiline cresceu na graça da inteligência mãe, terminou seus estudos universitários, arrumou as malas e seguiu para ultramar, a buscar o ninho do oceano.

 

Uma semana depois que estava na terra do monomotapa, escreveu para a família a reclamar da saudade, da comida, sobretudo do feijão preto.

As primeiras semanas foram cruéis e decisivas. À noite chorava pela ausência do feijão nas refeições. Para ela a comida perdia glamour sem esse ingrediente.

“Você não está curtindo?”, perguntava a mãe do outro lado.

“Estou, muito.”, ruminava e começava com suas choraminhices, da saudade dos colegas do Colégio, faculdade e tudo o mais.

“E a morada das águas?”, sua mãe queria saber.

“Deixa disso, mãe”, dizia que não era mais criança.

Não faltou iniciativa de arrumar as malas e regressar ao ninho, entretanto ela não desistia com muita facilidade, continuou firme em suas pesquisas.

Enquanto isso, o ponteiro do relógio andava como uma roda a girar, a anunciar horas e dias. O tempo voou como quando tinha a idade de 4 anos. À idade adulta e ela foi dividindo o seu tempo, ocupando-se com estudos sobre a Casa da Pedra e a Ilha de Moçambique, encantando-se com o fim das águas que não existiu.

 

 

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