Cart
No products in the cart.
Por Fernanda Lopes Dizem que, quando amamos alguém, entregamos metade da alma. Que é como um contrato silencioso: metade minha, metade sua, e o amor se equilibra assim. Eu ouvi isso tantas vezes. E, por um tempo, acreditei mesmo nessa ideia bonita de que o amor se constrói devagar, um tijolinho de cada vez, com […]
Por Fernanda Lopes Há algo de profundamente verdadeiro — ainda que incômodo — na lógica antiga que regia o mundo grego: a ideia de que os atos humanos não morrem com seus autores. Eles ecoam. Eles permanecem. Eles se infiltram no tempo e moldam o destino dos que ainda virão. Pode parecer cruel, e talvez […]
Por Fernanda Lopes A expressão “meu Deus!” não sai da boca por convocação celestial. Sai porque a língua é caprichosa, feita de repetições, hábitos, fórmulas prontas. A gente aprende “Deus me livre!” antes mesmo de entender o que é “livre” — quanto mais “Deus”. Verdade seja dita, a língua nos amarrou essa corda no pescoço […]...
Por Fernanda Lopes Ah, o maravilhoso hábito de lavar a louça imediatamente depois de comer. Parece simples, mas quem teve o prazer de viver em uma república sabe: isso faz parte da sobrevivência. Quase quatro anos dividindo a cozinha com uma galera e, quando vi, eu já estava nesse ritmo acelerado de pegar o prato, […]
Por Fernanda Lopes Outro dia, voltando do trabalho, parei no sinal vermelho e vi um passarinho bicando uma casquinha de pão no chão da calçada. Ninguém prestava atenção nele, só eu — ou melhor, eu e um cachorro que passou e espantou o coitado. E naquele segundo, pensei: a vida do bicho é simples. Ele […]
Por Fernanda Lopes Outro dia, no meio de uma correção de redações, parei. Caneta na mão, caderno aberto, mas a cabeça longe. O que eu estava fazendo ali? Corrigindo mais um texto de um aluno que não sabe, de fato, o que está fazendo. E não por preguiça. Nem sempre por falta de interesse. Mas […]
Por Fernanda Lopes É curioso como a mesma situação pode parecer tão diferente dependendo do lugar e do olhar. Dias atrás, escrevi uma crônica celebrando como a escola parecia ter reencontrado sua essência após a proibição dos celulares: as crianças voltaram a brincar, a conversar, a ocupar os espaços com mais leveza e espontaneidade. Mas [&hel...
Por Fernanda Lopes Eu não me esqueço da sensação que tive quando terminei de ler Monster, de Naoki Urasawa. Fechei o último volume com um nó na garganta e um pensamento inquietante martelando na cabeça: todas as vidas realmente têm o mesmo valor? A resposta que eu queria dar era “sim, claro”. Mas a resposta […]
Por Fernanda Lopes Era uma vez um tempo em que a cultura chegava até nós de forma quase artesanal. Minha mãe me dava livros que tinham marcado a adolescência dela, o professor de português insistia que havia uma ordem natural para se ler os clássicos, e minha tia, entre um café e outro, soltava frases […]
Por Fernanda Lopes O ônibus sacolejava nas ruas esburacadas da cidade. O cheiro de suor, perfume barato e fritura impregnava o ar quente, misturado ao som das conversas abafadas e da rotação irregular do motor. Marta segurava firme a bolsa no colo, sentindo os músculos ainda tensos depois de mais um dia de trabalho. Doze […]
Por Fernanda Lopes Como Paulo Mendes Campos bem colocou, “amanhecer chorando, anoitecer dançando”. No meu caso, a vida é uma verdadeira maratona. Como professora, sou constantemente desafiada pelas inúmeras responsabilidades que assumo, e a correria do dia a dia me envolve de tal forma que mal consigo encontrar um momento de pausa. Acordo todo...
Por Fernanda Lopes A primeira coisa que notei com a proibição dos celulares na escola foi o som. Sim, o som do intervalo mudou completamente. Antes, o que se ouvia era um silêncio estranho, quebrado apenas pelo barulho esporádico de um vídeo rodando sem fone ou por risadinhas abafadas enquanto alguém mostrava um meme para […]
Por Fernanda Lopes Eu me lembro exatamente do dia em que percebi que estava cruzando a linha. Foi um daqueles momentos de epifania tardia, como quando você percebe que esqueceu o gás ligado só depois de ter saído de casa. Eu estava sentada no pátio, observando uma aluna minha, a Duda, chorando. O choro era […]