Por Jahmaycon
Nunca me esqueço da poeticidade da crônica “O mar” de Rubem Braga. Eu a li quando estava no ensino médio, era meu último ano de escola e tinha muito tempo livre dentro da sala de aula, em partes pelas inúmeras ausências de professores, em parte pelo fato de eu costumar finalizar minhas tarefas antes dos meus colegas, então ficava ali pensando no que fazer. Para minha sorte, ganhamos um livro didático repleto de textos. Era um volume único para as séries do ensino médio, então havia muita coisa nele. Eu ficava folheando e parava em algum texto que me chamava a atenção. Essa crônica foi uma delas.
Tempos depois, o professor solicitou a leitura e resolução das questões referentes a ela. Trata-se de uma linguagem simples, típica do mestre da crônica, mas repleta de sentimentos. O relato da primeira experiência do narrador com o mar me marcou. Tanto que anos depois, quando finalmente vi o mar, lembrei exatamente deste texto. A minha experiência foi completamente diferente, até porque no texto era uma criança e eu só pude ir à praia com mais de 20 anos de idade. Mesmo assim, o texto ajudou a tornar meu momento uma experiência inesquecível também. Tanto que hoje estou transformando essa lembrança em texto.
A literatura é capaz de realizar certas mágicas em nossa vida, capaz de transformar momentos casuais e experiências inesquecíveis. Isso é um pouco da magia da leitura. Óbvio que minha primeira vez com o mar poderia ser uma experiência e tanto, mas será que eu a teria tão viva em minha mente se nunca tivesse lido esse texto de Rubem Braga? Será que a lembrança que tenho do texto seria tão marcante se tivesse ficado apenas na primeira leitura? Acredito que não.
Mesmo a rotina escolar sendo maçante e geralmente enfadonha, pode proporcionar momentos incríveis se nos deixarmos cativar. Quando se tratava dos textos daquele livro eu prestava muita atenção, porque já tinha lido a maioria no momento de ócio criativo que as aulas me proporcionavam.