Por Fernanda Lopes
Dizem que, quando amamos alguém, entregamos metade da alma. Que é como um contrato silencioso: metade minha, metade sua, e o amor se equilibra assim. Eu ouvi isso tantas vezes. E, por um tempo, acreditei mesmo nessa ideia bonita de que o amor se constrói devagar, um tijolinho de cada vez, com doçura e cuidado, cada um cedendo só um pouquinho, para não doer demais. Pensei mesmo que era assim que o amor funcionava: aos poucos, meio a meio, uma parte minha para você, uma parte sua para mim. Parecia tão poético, tão certo… Mas agora eu sei que não é bem assim. Não para mim.
Desde o primeiro olhar — aquele que até hoje eu não sei descrever direito — eu soube: metade não dava conta. Ele já era tudo — era todo o meu mundo. Não digo isso como quem perdeu o juízo, embora talvez tenha perdido um pouco. É que ele não estava só na minha alma. Não. Ele tinha se espalhado pelo meu corpo todo. Estava na pele, naquele arrepio que subia sem aviso, no coração que disparava descompassado, no ritmo diferente da minha respiração, até no sorriso involuntário que insistia em brotar, mesmo quando eu tentava esconder. E mesmo no silêncio, naquele espaço que a gente acha que está vazio, ele estava ali, preenchendo tudo.
Eu aprendi que o amor não é metade, não é parte, não é uma divisão. É entrega total. Uma entrega tão grande que às vezes me apavora, me desnuda, me deixa vulnerável. Como explicar essa entrega que não cabe em pedaços? Como medir o amor que é inteiro, que não se reparte, que se consome e se transborda ao mesmo tempo? Sinceramente, caberia o amor verdadeiro em metades? Ou ele simplesmente explode e ocupa tudo, a ponto de não sobrar nada para nós mesmos? Será que entregar a alma inteira é um risco — ou talvez a única maneira de amar de verdade? É tudo ou nada.
Às vezes, essa entrega me assusta. Assusta, sim. Porque amar não é só alegria, não é só poema bonito ou música romântica. Amar assim é abrir a porta do peito e deixar tudo entrar — o medo, a dor, a esperança, a loucura. É sentir o outro tão dentro que quase não dá para distinguir onde acaba ele e começo eu. Porque é muita coisa para carregar com um coração só. E sabe o que é mais louco? É que, mesmo com esse medo, eu não quero voltar atrás. Não quero dividir a alma em metades nem guardar pedaços para mim. Quero entregar inteira. Quero ser toda alma — inteira — para ele.
Ele nunca foi metade. Ele sempre foi tempestade e calmaria. Fome e abrigo. Corpo e alma. E se alguém ainda quiser insistir na história das metades, tudo bem. Eu sorrio. Mas, cá entre nós — e eu espero que você entenda —, tem amores que vêm para ser tudo. Que não se medem em partes. Que não se contentam com menos. Hoje digo: amor não é divisão, é multiplicação.
E talvez seja esse o tipo de amor que, uma vez na vida, muda tudo.
Inclusive você.
Fernanda Lopes, Jornal Choraminhices.
Obrigado pela análise muito oportuna ao contexto da Humanidade no momento atual, doente pode pirar deslocada da Realidade como diz Mell Flores, criando Bebes Reborn para desconectar da Realidade, criando animais no lugar de Filhos de verdade.
Seria mais fácil amar Mical somente e ter 5 filhos com ela.
Dizem que cada sombria colocação, estrutura pois cada pessoas merece um tipo de amor tão específico para aquela dimensão da vida que vive como Odisseus ou como Davi aos 25 anos merece uma esposa com Abigail ou como Mical aos 20 anos.
O Amor entende duas pessoas e não três, a humanidade errou ao atirar o Amor na Bandeja do Porco que nós comemos.