Por Hernani da Claita
Eu sou Joseph de 15 anos, moro em Maputo com meu Pai. Fiquei órfão de mãe recentemente, perdi minha mãe faz 5 meses.
Eu sou oposto do que era minha mãe, aliás, eu não quero ser que né minha mãe.
Minha mãe ficava horas a fio lendo livros e quando terminava um pegava outro e vivia naquele mundo cósmico e triste. Eu odeio ler, prefiro ver tudo na internet.
Minha mãe não gostava nada do que tinha vida, deixava-me avulsa não cuidava de mim preferia ficar lendo e chorar por personagens que nem se quer existem na vida real, e eu gosto do que tem Vida, no meu aniversário de 15 anos meu pai presenteou-me com um cachorro, chama-se Ruben ( Ruben, é nome do meu professor de matemática, não gosto de matemática).
Minha mãe amava as músicas de Vinicius de Morais.
Nesses cinco meses sem minha mãe, meu pai chorava no banheiro todos os dias ( afinal, homem chora!?) E não vi mais o sorriso belo do meu pai., ele já não ria, a morte da mamãe foi um golpe, parecia que o eterno queria fazer ajustes de conta com o papai.
Então, decidi ser humorista para fazer sorrir meu pai.
Fui assistindo videos no YouTube de humor, fui apreendendo como se tornar humorista em 15 dias, até cortei o cabelo para parecer engraçada.
Na escola nada andava bem, a professora Clotilde, professora de português, até notou a minha falta de ânimo e interesse e o meu fraco desempenho.
Hoje briguei com minha melhor amiga por sinal a única, só porque ela não ria das minhas piadas, na verdade, sentia um pouco de inveja da família perfeita dela, tudo me lembrava minha mãe, e a Anabela não tinha culpa, na saída da escola vi uma família de pai e mãe e filho atravessando a Avenida de mãos dadas foi lindo, meu rosto ficava vermelho tomate com raiva que dava vontade de sair correndo para não ver aquela cena linda que me lembrava minha mãe.
Hoje acordei o sol, sai bem cedo para doar livros da mamãe, eu não quero ser como ela.
Em seguida fui para escola, não fazia nenhum sentido estar na sala de aulas nada me excitava nenhum interesse em assimilar a matéria, contava as horas para sair da escola.
Já em casa, no espelho do banheiro, ensaiava as piadas, risos.
– Não permita que as pessoas te tratem como feia. Você é mas não permita.
– Pessoal, ontem o agiota levou meus comprimidos de HIV.
– Da para entender as mulheres!?: Elas te ignoraram e te culpam por não teres ido atrás delas.
– Outro dia na escola conheci um novo colega;
– Ele: meu nome é João sem U.
– Eu: mas João não tem U.
– Ele: foi o que eu acabei de dizer.
– Toda Bonita, nem parece que mandou nosso amigo picar Benzatina.
Hoje é o grande dia.
O dia que vou fazer o papai rir de novo, estou em exitasse, já no caminho do Filiper Lounge
– Filiper Lounge é um Lounge do meu tio Filipe irmão do meu pai, combinará com ele que eu faria um número de Stand-up comedy e o papai estaria sem saber de nada.
Era uma quarta-feira, o Filiper as quartas-feiras oferecia promoção de Pizza e Cerveja.
A casa estava repleta e meu pai estava lá sentado tomando uma sem saber do que vinha a seguir, então, o tio Filiper anuncou a minha entrada triunfal.
-Tio Filiper: hoje teremos um número de Stand-up comedy com uma menina Talentosa de 15 anos, hoje ela veio fazer os adultos rirem.
– Tio Filiper: Joseph…..
Ecoava Aplausos e assobios do público.
Já no palco sentia como se o chão estivesse abandono os meus pés, minha cabeça acabará de despencar da montanha russa, minhas mãos já não obedeciam meus comandos, a única palavra que saiu foi “Boa noite”, tímida.
O papai estava incrédulo e com semblante de quem vai apanhar infarte.
Então procedi: foi uma, duas, três, quatro….
O público foi ao delírio e papai voltou a sorrir, desci do palco e fui juntar me ao papai, Tio Filiper, tia Gilda e a Anabela. O papai sorria como se estivesse a fazer propaganda de pasta dentífrica, risos.
Foi quando fiquei examinando todos felizes rindo e lembrei da mamãe, fiquei triste e percebi que eu é quem precisava de ajuda, a morte da mamãe fez com que eu despencasse numa depressão profunda e eu escondia.
Saí do Filiper correndo, Dizendo: EU QUERO SER COMO TU MÃE, SINTO SUA FALTA. E uma lágrima saltava-me da vista.
Quando já estava fora do Filiper não enxergava direito, chovia aos tímidos eu correndo um carro passou por cima de mim e só consegui ouvir meu pai gritando meu nome.
– Joseph….
E nunca mais acordei.
Hernani da Claita, Jornal Choraminhices.
Obrigado pelo seu texto Hernani Da Claita, em partes dada lembrança parece uma colcha de retalhos, em que você consegue associar a figura paterna a figura materna perdida numa Orfandade sem limites, podem ampliar a leitura de nossa sociedade em Tempos Líquidos segundo Baumann. Hoje vemos um outra problemática Sonora maes priorizam bonecos ao invés de filhos biológicos, adotando cães e gatos, conforme os psicólogos pensam que há uma profunda Desconexão com a Realidade nua e crua da Vida
É de facto, tentei trazer essa verdade, só espero que a mensagem tenha chegado